A palavra internato e gravidez andam muitas vezes de mãos dadas, foi o que aconteceu comigo, interna da especialidade de Medicina Geral e Familiar e no último ano, a gravidez bateu-me à porta.
À medida que a gravidez progredia, várias questões surgiram a nível profissional, tais como: como vão reagir na USF? A coordenação de Internato irá permitir a prolongação do mesmo? E depois? Como terei tempo para estudar e organizar o currículo? O que dirão os utentes? Sentirão a minha ausência? As preocupações e o sentido de responsabilidade apuram, no entanto, o fascínio de ser mãe é indescritível.
A notícia inesperada da minha gravidez foi muito bem recebida por todos na USF, sobretudo pela minha orientadora de formação, de quem tive e tenho sempre muito apoio e compreensão. Ainda me lembro quando me dirigi à secretária, e, como habitual, pedi uma “folha verde”, as de isenção de gravidez.
Eis que em tom de brincadeira, a secretária clínica exclama: “só se for para si!”.
Respondo com um sorriso rasgado e recebo um abraço apertado. Os abraços e os beijinhos multiplicaram-se por todos. Os utentes mais atentos felicitavam-me. A coordenação de Internato de Leiria dispôs-se prontamente a ajudar e orientar-me no que fosse preciso. Acrescento dizendo que não senti qualquer obstáculo durante a minha formação como médica interna, nem quando estive grávida.
Os cinco meses da licença de maternidade foram usufruídos e desfrutados sempre com o sentimento de necessitar de mais tempo para o meu filho.
De regresso ao trabalho, motivada e mais feliz, apercebi-me que tinha saudades de ser médica, de rever os “meus utentes”, sentir falta de outros e conhecer os novos. Confesso que agora, a 3 meses de terminar a minha especialidade, tudo se torna mais intenso e desafiante, no entanto, como tudo na vida, é dificultado nas etapas finais, e o internato médico não é exceção. Agora, mais do que nunca, tenho de provar a minha qualificação profissional.
Diariamente melhoro como médica e agora também como mãe, mas o tempo, esse, desliza como um peixe nas nossas mãos e sustém-se por segundos quando um filho nos sorri. Esta dualidade de tempo é uma constância no dia-a-dia.
Se há missões sem fim, estas são duas delas, ambas sublimes, a de ser médica e a de ser mãe.
Marta Ribeiro
Médica Interna MGF, USF D. Diniz