A “urgência” da aposta nos CSP – Relatório de Primavera 2018

No passado dia 19 de junho, a USF-AN, representada por João Rodrigues, participou na apresentação do Relatório de Primavera 2018 do Observatório Português dos Sistemas de Saúde.

Dos resultados obtidos, conclui-se que os cuidados de saúde primários (CSP) revelam carências estruturais e de decisão política (recursos humanos, materiais e evolução das USF), revelando uma “paralisação” na reforma dos CSP.

Por este relatório, constata-se que os CSP estão longe de serem a prioridade política do atual Governo, sendo altamente preocupante que o Sr. Ministro da Saúde continue a afirmar que no ano de 2018 estamos melhor do que em 2015, sabendo todos nós que em 2017 (e 2018 continua, ainda só abriram 4 novas USF) foi o pior ano da reforma dos cuidados de saúde primários, relativamente à criação de novas Unidades de Saúde Familiares (USF), como, aliás, temos reiteradamente demonstrado. (ver aqui)

Atualmente, estamos com 505 USF para uma necessidade estimada de cerca de 820 a 850. Só 60% do país está coberto por USF.

Com este cenário, infelizmente persistem grandes iniquidades no acesso a CSP de qualidade entre pessoas, famílias e comunidades, consoante a região do país e, em cada região, dentro da mesma comunidade local.

Recordamos, se o país estivesse todo em USF, teríamos:

Produção qualitativa: taxas de utilização (consultas médicas e de enfermagem de grupos vulneráveis e de risco, e consultas domiciliárias) sempre superiores nas USF.

  • Mais 93.000 diabéticos estariam controlados (HbA1c menos que 8%);
  • Mais 112 mil hipertensos teriam tensões arteriais normalizadas (menor que 150/90);
  • Mais 1.900 grávidas teriam tido a sua consulta de vigilância no 1º trimestre;
  • Mais 4.596 recém nascidos com consulta de vigilância antes do 28º dia;
  • Mais 153.000 idosos teriam tido uma consulta de enfermagem no seu domicílio;
  • Mais 33.000 idosos teriam tido uma consulta de médica no seu domicílio;

Prevenção: melhor desempenho na avaliação dos indicadores de vigilância oncológica, de rastreio, e de vacinação nas USF.

  • Mais 320.000 adultos com mais de 50 anos teriam feito rastreio do cancro do cólon;
  • Mais 300.000 mulheres teriam feito rastreio do cancro da mama;
  • Mais 510 mil mulheres teriam tido uma consulta de planeamento família e mais 300 mil mulheres com citologia cervico-vaginal realizada;
  • Mais 30.000 idosos teriam feito a vacina da Gripe.

Menor taxa de internamentos hospitalares evitáveis e menor idas às urgências hospitalares.

Eficiência económica: uma poupança potencial com medicação em cerca de 105M euros e de 16M com MCDT por ano.

Mesmo com esta evidência, comprovada por estudos do próprio Ministério da Saúde (CNCSP), o ritmo concretizado por este Governo na abertura de USF – abertura de 20 novas USF por ano – é escandaloso. Se assim continuarmos, só em 2030-2035 seria atingida a equidade no acesso às USF.

Por outras palavras, este ato prolonga as desigualdades entre portugueses no acesso a cuidados de saúde primários (CSP) com qualidade, pelo menos doze anos.

Não podemos esperar tanto tempo!

Apresentamos a solução, desafiando o Governo a acabar com as cotas para USF e a criar condições para aumentar as candidaturas, podendo assim acabar-se com um país a duas velocidades em 4 anos em vez de 12 anos!

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