O surgimento das Unidades de Saúde Familiar veio mudar o paradigma dos Cuidados de Saúde Primários em Portugal, mudando o centro da atenção dos cuidados para o utente.
Nesta última década assistiu-se a largos ganhos em prol da melhoria dos cuidados prestados aos cidadãos:
– A atribuição de Médico e Enfermeiro de Família a milhares de utentes que até então recorriam ao centro de saúde a consultas de recurso pontuais, sem qualquer acompanhamento ao longo da vida, e que com a abertura das USF passaram a ter um acompanhamento de proximidade.
– Melhoria da acessibilidade dos utentes aos cuidados de saúde: O Serviço Nacional de Saúde tem vindo a apostar na capacitação do utente, nomeadamente através de facilitação de ferramentas tecnológicas que lhes permitam recorrer aos serviços de uma forma mais ágil.
– Literacia em saúde: o envolvimento dos cidadãos nas decisões individuais da sua saúde.
– Criação de Comissões de utente: a colaboração dos cidadãos nas decisões das políticas de saúde.
Ao nível da organização dos serviços:
– Trabalho em equipa: a oportunidade do trabalho em equipas multidisciplinares veio trazer maturidade com mais-valias para os serviços prestados.
– A realização profissional através da oportunidade da valorização do desempenho dos profissionais ao nível da remuneração.
– Surgimento de uma nova profissão – secretário clínico: esta veio trazer uma melhoria no atendimento personalizado, competente, focado na satisfação das necessidades dos utentes. Perante a exigência de novos desafios propostos aos profissionais, estes têm procurado dar resposta através da formação e capacitação das suas aptidões, conhecimentos e atitudes, por forma a qualificar a profissão.
Destaco como pontos fortes desta década:
– a melhoria da organização interna dos serviços
– a aquisição de novos conhecimentos por parte dos profissionais
– um maior envolvimento profissional entre toda a equipa
– a consolidação dos contratos precários
Apesar desta aparente “primavera” nos Cuidados Saúde Primários, nos últimos tempos o processo de criação e desenvolvimento de novas USF tem desacelerado.
O desinvestimento nos CSP é notório, continuando a revelar fragilidades a vários níveis:
– Recursos humanos
– Sistemas de informação
– Estruturas físicas
E comprometendo assim a acessibilidade por parte dos cidadãos, bem como a motivação dos profissionais que abraçaram o projeto USF.
Mais do que encontrar responsáveis, é preciso provar diariamente nas equipas que a Reforma CSP iniciada há mais de 10 anos valeu a pena e continuará a valer, desde que o poder não ignore os ganhos que o modelo USF trouxe para o país.
Esperemos que os desígnios do “pai” do SNS – Dr. António Arnaut se façam valer – não deixem o SNS morrer!
Vamos esperar que não.
Continuemos a lutar pela defesa das USF.
Helena Almeida
Secretária Clínica