Vacinas contra a Gripe e Covid-19 nos Centros de Saúde: Cobertura Máxima, Poupança e Menos Desperdício na Campanha 2024-25. Tem de se programa melhor 2025-26

COMUNICADO

27.junho.2025

A USF-AN vem, por este meio, divulgar a sua posição relativa ao processo vacinal sazonal outono-inverno 2024-2025, tendo por base os dados divulgados pela DGS no respetivo relatório final de avaliação. A análise dos dados sustentam que a campanha quando centrada nos centros de saúde do Serviço Nacional de Saúde (SNS), apresenta melhores resultados seja em termos de cobertura vacinal, eficiência de custos ou segurança no uso das vacinas do que quando acontece nas farmácias.

Dados e evidências da campanha 2024/2025:

  • Cobertura vacinal máxima alcançada só no grupo etário 85+, vacinado exclusivamente nos centros de saúde do SNS: A taxa de cobertura vacinal contra a gripe mais elevada (85,1%) foi obtida no grupo etário de 85 ou mais anos, utentes vacinados exclusivamente nos centros de saúde do SNS. Este resultado demonstra que, mesmo num modelo que incluiu as farmácias, foram os centros de saúde do SNS que asseguraram a vacinação da faixa mais vulnerável da população e com uma cobertura vacinal que ultrapassou as metas. Foi, e é importante reforçar, o único grupo em que se conseguiu ultrapassar a meta (75%) e antes da época gripal, ou seja, em tempo útil. Nos outros em que se dispersou a logística, não se conseguiu. A proximidade das unidades de saúde familiar aos seus utentes, aliada à capacidade de mobilização das equipas para vacinar ao domicílio quando necessário, permitiu atingir esta cobertura excecional entre os mais idosos.

Comparação das coberturas vacinais contra a gripe por grupo etário na Campanha Sazonal 2023-24 e 2024-25 (Fonte DGS)

  • Centros de saúde vacinam com menor custo para o Estado: Os dados demonstram claramente que a vacinação nos centros de saúde do SNS é economicamente mais vantajosa para o Estado em comparação com as farmácias comunitárias. Segundo o relatório final da campanha de vacinação sazonal do outono-inverno 2024-2025, as farmácias comunitárias administraram 1 307 674 doses de vacina contra a gripe e 862 031 doses de vacina contra a COVID-19. Considerando que o Estado paga 3 euros por cada vacina administrada nas farmácias, o custo total desta operação ascende a cerca de 6.509.115 euros, correspondendo a 3.923.022 euros pela vacinação contra a gripe e 2.586.093 euros pela vacinação contra a COVID-19. Este significativo valor, que passou a ser uma despesa fica anual do Estado, poderia ser investido diretamente no reforço das equipas dos Cuidados de Saúde Primários (CSP), permitindo a contratação de mais profissionais de saúde, melhorando assim o acesso e a capacidade de resposta do SNS para esta tarefa e todas as as outras, otimizando o uso dos recursos públicos. A USF-AN apela, portanto, a uma reavaliação urgente desta política, privilegiando a sustentabilidade financeira e o reforço da capacidade instalada do SNS em linha com os objetivos do governo.

 

  • Simplificação logística e equidade na distribuição: A USF-AN defende o princípio da simplificação do processo vacinal. A multiplicação de locais de vacinação fora do SNS não é necessária e gera uma complexidade logística acrescida e problemas de coordenação na distribuição de vacinas. É um dos casos em que mais é menos. Durante a campanha 2024/2025 observaram-se dificuldades operacionais sempre que houve necessidade de gerir dois circuitos paralelos de vacinação (SNS e farmácias), incluindo falhas de fornecimento em algumas unidades de saúde que exigiram partilha de vacinas entre elas para colmatar rupturas. Mais locais de vacinação traduziram-se, assim, em desafios desnecessários de logística, comunicação e gestão de stock, que poderiam ser evitados com um processo mais centralizado nos centros de saúde do SNS.

 

  • Menos desperdício de vacinas no SNS comparado com farmácias: Os dados oficiais revelam diferenças marcantes no que toca ao desperdício de doses vacinais. No total, foram inutilizadas 67.425 doses de vacinas COVID-19 durante a campanha, das quais 57.915 ocorreram em farmácias (equivalente a 6,3% das doses disponibilizadas nesse canal). Nos centros de saúde do SNS, pelo contrário, registou-se o desperdício de apenas 9.510 doses de COVID-19 (1,33%). Uma tendência semelhante verificou-se na vacina da gripe sazonal: as farmácias inutilizaram 1.701 doses (0,13%), enquanto que nos CSP apenas 347 doses acabaram não sendo utilizadas (0,03%). Estes valores demonstram uma gestão mais eficiente dos recursos vacinais nos centros de saúde, reduzindo ao mínimo o desperdício de vacinas – fator crucial para a eficiência, segurança e sucesso de qualquer campanha de vacinação.

 

  • Reinvestir na capacidade do SNS: Perante os resultados acima, importa repensar a alocação de recursos. O montante pago pelo Estado às farmácias pela administração de vacinas poderia ser mais bem aproveitado se investido no reforço de recursos humanos no SNS. A USF-AN sugere, concretamente, que essas verbas sirvam para contratar mais profissionais de saúde (médicos de família, enfermeiros de família, secretários clínicos e outros profissionais de saúde) para os cuidados de saúde primários. Ao fortalecer as equipas dos CSP, o SNS aumenta a sua capacidade de resposta local, melhora a acessibilidade e garante que futuras campanhas de vacinação possam atingir ainda mais pessoas de forma célere e eficiente, sem necessidade de recorrer a redes externas.Conclusões Os dados da campanha outono-inverno 2024/2025 constituem evidência robusta de que a estratégia centrada nos centros de saúde do SNS traz claros benefícios em termos de cobertura da população, otimização de custos e utilização segura dos recursos. A USF-AN apela às autoridades de saúde para que mantenham o processo vacinal sazonal firmemente ancorado no SNS, contrariando eventuais tendências de desviar progressivamente esta competência para as farmácias comunitárias. Pelo contrário, defende-se a simplificação do modelo de vacinação – evitando a dispersão por múltiplos locais – e o reforço do SNS com os meios necessários, humanos e materiais, para continuar a desempenhar este papel de forma exemplar. Assim, garantir-se-á que nas próximas épocas de outono-inverno toda a população elegível seja vacinada de forma mais próxima, segura, eficiente e em tempo útil, salvaguardando-se a saúde pública e a confiança dos cidadãos no sistema de saúde.

 

A Direção da USF-AN

*comunicado em