As competências de liderança nas equipas de saúde familiar

Os profissionais das Unidades de Saúde Familiar (USF) têm vindo a assumir-se como os principais responsáveis ​​por promover a saúde e prevenir a doença. São também fundamentais para orientar os pacientes através do sistema de saúde sendo, por conseguinte, essencial que estejam capacitados para coordenar atividades e garantir a articulação interinstitucional, bem como o contacto com o paciente e/ou sua família. Deste modo, pede-se aos profissionais das USF que sejam mais do que apenas prestadores de cuidados de saúde, o que implica, necessariamente, dominar competências que vão para além das competências técnicas da área da saúde. Ademais, o modelo de governação preconizado para as USF, exige dos profissionais de saúde a assunção de responsabilidades formais e/ou informais de liderança e gestão. A avocação de tais funções requer destes profissionais, assumido eles ou não o papel de coordenador(a) (a liderança formal da USF), competências de liderança tão vastas como a capacidade de motivar equipas, de gerir mudanças, de comunicar eficazmente uma visão/uma ideia, de negociar, de resolver conflitos, de estabelecer parcerias e/ou objetivos.

Certamente o estimado(a) leitor(a) já terá ouvido a expressão “perdeu-se um excelente técnico, ganhou-se um péssimo líder”.  Esta expressão remete-nos para a conceção de que o exercício de funções de liderança exige muito mais do que competências técnicas. Mas em boa verdade, estas foram as únicas a serem validadas, testadas e/ou asseguradas para a esmagadora maioria dos(as) secretários(as) clínicos(as), enfermeiros(as) e médicos(as) que integram as mais de 500 USF do nosso sistema nacional de saúde. Ora liderar uma equipa, maior ou mais singela, exige também competências relacionais, concetuais e de liderança pessoal. Líderes tecnicamente competentes, mas desprovidos de competências relacionais, serão incapazes de gerir devidamente as suas equipas e de se relacionarem proficuamente com subordinados, pares, superiores e entidades externas à organização. E líderes desprovidos de competências concetuais dificilmente possuirão as habilidades necessárias para esboçar o futuro e o rumo das suas equipas ou organizações. Competências de liderança pessoal, como a prudência, a temperança e a capacidade para evitar o deslumbramento do poder, são de enorme relevância para que um indivíduo, enquanto líder, assuma esse papel sem nunca “tirar os pés do chão”.

Citando as palavras de Marshall Goldsmith[1]: o que nos trouxe ao presente não nos conduzirá necessariamente ao futuro.  As competências que nos tornam eficazes numa dada função ou área, não nos garantem igual eficácia noutras funções ou áreas. Num determinado momento, ou num determinado patamar, a liderança competente é feita da combinação de competências técnicas, relacionais, concetuais e de liderança pessoal.

Por conseguinte, a capacidade de desenvolver este tipo de competências ao logo da vida profissional, através de formação, afigura-se como fulcral para que os profissionais de saúde das USF assumam os seus papéis de forma cada vez mais proficiente.

[1] Goldsmith, M. (2011). O que o fez chegar aqui nãoo leva mais além. Lisboa: Smartbook.

Andreia Vitória

Docente na UA e Coordenadora Científica do CAF Competências em liderança