Covid-19: Confinamento obrigatório, mas evitável!

A Região Centro acompanha o crescimento nacional sustentado da pandemia, tanto em número de novos casos que duplicaram na quinzena de 28.12.20 a 10.01.21, média diária de 1.163 novos casos, como em termos de número de internamentos que aumentaram 32% em relação à véspera de Natal e 28% desde o primeiro dia de janeiro.

A 24 de dezembro estavam internados com Covid-19 nos Hospitais da Região Centro, 609 doentes dos quais 83 nas Unidades de Cuidados Intensivos (UCI). No dia 10 de janeiro já eram mais 256 os doentes internados, dos quais mais 14 em UCI.

Não há dúvida de que o Governo com apoio da Assembleia da República vai ter de decretar o quanto antes, um confinamento muito próximo do que existiu em março com reforço do teletrabalho, acesso imediato ao lay-off simplificado e reforço dos subsídios a fundo perdido às empresas dos setores que deverão fechar, pelo menos por duas a quatro semanas.

Devemos aprender com esta pandemia que um “contrato de confiança” de mudança de comportamentos, só resulta ao longo de décadas e só se existir uma aposta continuada na educação, capacitação individual e na cidadania.

O momento ensina-nos que devemos insistir pedagogicamente que a responsabilidade é de todos nós. Nas atitudes do dia a dia, em casa, no trabalho, no espaço público, utilizando rigorosamente a máscara, não debaixo do nariz, mas a cobrir as entradas das vias respiratórias e lavando regularmente as mãos.

Precisamos de um processo de aconselhamento científico contínuo, nacional e regional, capaz de apresentar propostas de ação comunicadas ao governo e à comunidade.

Se o objetivo é evitar ajuntamentos, a estratégia só pode ser criar condições para os contatos indiretos (teletrabalho, desburocratização, serviços ao domicílio, serviços na comunidade mais próximos, horários desfasados, mais transportes públicos, etc) e/ou alargar o período de funcionamento dos espaços comerciais ou outros serviços, evitando que em reação as pessoas se aglomerem como está a acontecer ao fim de semana com o fecho às 13h!

Uma questão crucial, a ser equacionada a sua resposta, é como responder há falta de políticas e orçamentos de bem-estar, nomeadamente na área do envelhecimento que articulem a ação dos vários ministérios e sectores para um mesmo fim.

Apesar da “prioridade das prioridades” ser a vacinação contra a Covid-19, para alcançar “a ansiada imunidade de grupo”, salienta-se que o processo de vacinação é obrigatoriamente muito lento, tendo de se estender até ao final do primeiro trimestre de 2022, não podemos esquecer que é difícil haver saúde com todo um SNS que parece estar orientado para o combate ao Covid-19, deixando para trás muita assistência não Covid.

Ano novo com um plano de vacinação Covid-19 em curso cria-nos a responsabilidade de agir na reestruturação da governação do SNS, alocando-se em dedicação plena uma task-force à resposta não-Covid-19 para podermos ter no terreno o plano nacional de recuperação do SNS, atrativo, acessível a todos, integrado numa rede colaborativa e digital, associado à execução da Lei do Orçamento de Estado de 2021 (artigos 272º a 278º) e ao arranque no segundo semestre de 2021 do Programa de Recuperação e Resiliência nos Cuidados de Saúde Primários.

João Rodrigues

in Diário as Beiras