Depois da crise sanitária da covid-19 nada poderá ser como antes. Uma crise tão profunda e súbita deve servir como oportunidade para reforçar o Serviço Nacional de Saúde (SNS), mudar a forma como as Unidades de Saúde funcionam, aumentando a sua responsabilidade em rede (SNS) e como os trabalhadores cumprem a sua missão.
Para já, a pandemia não se pode transformar numa oportunidade para os privados se financiarem ainda mais. Perante tal “caos”, “desorganização” e “risco” alguns atores defendem que há que recorrer ainda mais aos serviços privados depauperando o SNS, o que atualmente já acontece em enorme escala. 41% do orçamento do SNS é para pagar a privados em meios complementares de diagnóstico, terapêutica e cirurgias. Com o Covid-19, realização dos testes RT-PCR (zaragatoa), são só 600 mil euros/dia o montante que sai do Estado para ir para o setor privado.
Serviço Nacional de Saúde
A crise deixará um SNS mais robusto e credibilizado e, sobretudo, firme na sua centralidade enquanto resposta pública e posição central nos orçamentos do Estado. Não será mais possível cativar verbas neste sector nem realizar feitos orçamentais à sua custa.
Haverá mais investimento na rede do SNS quando se discriminar a utilização nesta área do Fundo de Recuperação e Resiliência Europeu com reforço da resolutividade de proximidade, serviços de urgência que só recebem doentes referenciados pelo INEM ou outros serviços e condições reais para a humanização dos cuidados de saúde.
Haverá mais financiamento do SNS para que ocorram as transformações necessárias. Estas passam por políticas para o envelhecimento saudável e ativo, resposta às pessoas com múltiplas patologias e disfunções que precisam recorrer de forma continuada e sem interrupções a vários tipos de cuidados para atingirem melhores resultados para a sua saúde no caminho da integração de cuidados em rede. Sem esquecer o financiamento da promoção da saúde e a literacia na saúde dos cidadãos.
A Lei de Bases da Saúde será regulamentada, desenvolvendo-se os Sistemas Locais de Saúde, integrando cuidados em rede com uma maior articulação em cada região de hospitais, centros de saúde, autarquias, segurança social, educação, economia social, tendo em conta que onde houver mais pobreza, desigualdade, baixa literacia, más condições de habitabilidade e desproteção social, maior será a vulnerabilidade da população, logo maior aposta intersectorial deverá ocorrer nas respostas a dar a essa população.
A abnegação provada por muitos profissionais de saúde reforçará a credibilidade do SNS e a necessidade de se implementar uma política centrada nos profissionais de saúde, nas suas condições de trabalho, reinventando carreiras atrativas em dedicação plena, deixando de ser necessário horas suplementar para superar necessidades permanentes de serviço.
Comunicações, Telemedicina e Telessaúde
Atualmente o sistema presencial já não faz muito sentido para algumas formas de acompanhamento clínico. Esta crise criará condições para o desenvolvimento e generalização de formas de telemedicina (teleconsulta, telediagnóstico, teletratamento, teleconsultadoria e da telemonitorização) e telessaúde (promoção da saúde) nos Hospitais e Centros de Saúde com importantes reduções de tempo, deslocações e custos através da necessidade de levar os doentes até ao médico.
Por fim, o singelo telefone estará associado às centrais telefónicas na “nuvem”, permitindo em tempo útil, todos os doentes falarem diretamente com os profissionais de saúde.
João Rodrigues