A 15.ª edição do estudo “O Momento Atual dos Cuidados de Saúde Primários em Portugal” confirma: a reforma iniciada em 2005 que levou às Unidades de Saúde Familiar – USF é uma história de sucesso, com 695 equipas e 7,9 milhões de utentes.
São os valores mais elevados de sempre e os números poderão até aumentar ainda este ano com a concretização das 37 novas candidaturas, representando mais 300 mil utentes com equipa de saúde familiar em modelo USF-B.
“É este o caminho: mais equipas, mais proximidade e mais confiança no SNS”, refere-se no relatório.
Satisfação em Alta, mas Fragilidades Persistem
O estudo, que recolheu respostas de 538 coordenadores de USF (77,6% do total nacional), revela uma subida da satisfação global das equipas e uma redução significativa dos níveis de insatisfação.
As USF mantêm-se a estrutura mais valorizada do sistema (80,6% das equipas satisfeitas ou muito satisfeitas com a sua atividade), contrastando com as avaliações ainda negativas em relação às estruturas centrais.
Com as Unidades Locais de Saúde (ULS), que agregam agora os hospitais e os cuidados de saúde primários (nas quais se incluem as USF) numa mesma administração, a satisfação é maior quando existe liderança próxima e acessível, como a que se verifica com os diretores clínicos para os CSP e, em especial, os seus Adjuntos, que são os elementos das estruturas de governação que despertam maior nível de satisfação. Estes Adjuntos, exercem funções de responsabilidade sem tempo protegido. A proteção de horário para a função de Adjunto é necessária e não poderá traduzir-se em perda de remuneração.
Mensagem-chave: Quanto mais próxima é a liderança, maior a satisfação das equipas.
Principais Necessidades Identificadas
O “top 6” de prioridades nas USF inclui:
- Conciliação entre vida profissional e pessoal;
- Políticas que priorizem os Cuidados de Saúde Primários;
- Interoperabilidade entre sistemas informáticos;
- Melhoria da referenciação hospitalar;
- Incentivos institucionais eficazes;
- Redução do tamanho das listas de utentes.
O relatório defende uma nova missão para os CSP, com medidas que devem ir da integração clínica à digital, da contratualização à qualidade de vida dos profissionais.
Recursos, Operacionalização e Profissionais
O estudo evidencia carências persistentes em equipamentos e infraestruturas:
- 90% das USF reportam faltas de material básico;
- 77% enfrentam atrasos na reposição de material superior a dois dias;
- 44% classificam as instalações como desadequadas.
Apenas 22% avaliam positivamente o apoio logístico das ULS, apesar de ligeira melhoria face a 2024. Quase todas (99,6%) registaram falhas informáticas repetidas, 15% mais de 50 vezes no ano, afetando a atividade clínica.
Entre as propostas, destaca-se a criação de um Plano Nacional de Manutenção e Equipamento das USF, com metas, prazos e reporte público anual.
Quanto aos recursos humanos, 40% das USF reportam equipas incompletas e mais de metade não têm substituição em caso de ausências prolongadas de elementos da equipa. O estudo defende:
- Criação de uma carreira de técnico superior de secretariado clínico;
- Mecanismos de compensação e substituição formal nas ausências;
- Consolidação das carreiras médicas e de enfermagem nas ULS.
Integração de Cuidados e Governação
Apesar das ULS terem sido criadas para integrar cuidados, apenas 25% dos coordenadores reconhecem melhorias na saúde das populações com a sua implementação. Ainda, em mais de um terço das ULS não existe manual de articulação de cuidados, e quase metade das equipas não foi envolvida no processo de desenvolvimento.
As propostas incluem:
- Criação de um Manual Nacional de Articulação CSP-ULS;
- Indicadores partilhados entre hospital, CSP e administração;
- Desburocratização e comunicação eficaz como condições essenciais para integração real.
Em matéria de governação, há recorde de USF (88%) que discutiram o Plano de Ação com a ULS, mas persistem atrasos nos incentivos institucionais e restrições à autonomia de gestão.
Recomenda-se:
- Contratualização plurianual e cumprimento rigoroso de calendários;
- Automatização da disponibilidade dos incentivos pelos SPMS e ACSS;
- Autonomia financeira e simplificação administrativa das USF;
- Avaliação anual de satisfação de profissionais e utentes.
Formação, Inovação e USF do Futuro
O relatório reforça a necessidade de investir em formação contínua certificada (DGS-ULS) e interoperabilidade digital total entre CSP, hospital e saúde pública.
Apenas 7,6% das USF dispõem de tecnologia para análises rápidas/point of care, que poderiam aumentar a capacidade resolutiva das equipas.
Quanto à visão para o futuro:
- 99% defendem menos burocracia e melhor conciliação vida-trabalho;
- 90% querem mais profissões da saúde nas equipas;
- 77% esperam USF mais digitais;
- Só 14% apoiam o modelo USF-C (gestão privada).
Conclusão
Vinte anos após o início da reforma, o estudo conclui que o envolvimento dos profissionais continua a ser o motor das transformações sustentáveis no SNS.
“O SNS melhora quando a integração é prática, a liderança é próxima, o apoio é certeiro, a autonomia é real e a qualidade é compromisso.”
O futuro dos Cuidados de Saúde Primários passa por consolidar a inovação organizacional, valorizar as carreiras e garantir que todos os cidadãos tenham uma equipa de saúde familiar estável, próxima e valorizada.
O SNS é fundamental para que todo o País funcione!
E para a vida das pessoas!
O estudo vai ser apresentado no 16º Encontro Nacional de USF em Santarém no dia 17 de Outubro/2025 na sessão de abertura pelas 11h.
Pode consultar o relatório do estudo AQUI e na biblioteca do site da USF-AN
Para a leitura do relatório, sugere-se começar pelo sumário executivo (ler a introdução dá um bom enquadramento) e depois procurar por palavras-chave do sumário executivo. Os capítulos da evolução das políticas e da USF do futuro visam um interesse na área das políticas, o capítulo do “Semáforo das ULS na Avenidas das USF” faz uma síntese do novo enquadramento organizacional das USF e a “Identificação e necessidades” vai ao cerne do que se tem de mudar. No final estão perfis das 39 ULS e um mapa de melhorias – um guião para se inovar e otimizar.
Fonte: Estudo “O Momento Atual da Reforma dos Cuidados de Saúde Primários em Portugal 2024/2025”
Base: Respostas de 538 coordenadores de USF (77,6% do total nacional) recolhidas entre julho e setembro de 2025.
Elaboração: USF-AN
P’la Direção da USF-AN