Participação cívica na saúde

É comum ouvirmos nos corredores, nos congressos, e em especial, nas redes sociais, as mais variadas queixas: sejam as condições de trabalho, seja o vencimento exíguo, o número de horas de urgência ou o desrespeito pelo profissional enquanto ser humano, e não como simples número de uma qualquer base de dados, desatualizada com certeza.

Contudo, esta multiplicidade de queixas, nem sempre, ou quase nunca, tem tradução nas várias plataformas de “reivindicação social”. Sejam elas as ordens, os sindicatos, as associações de médicos como a APMGF, ou organizações multiprofissionais como a USF-AN.

“É normal porque estamos em Portugal”, dirão alguns. “Falam, falam e não os vejo a fazer nada”, dirão outros. Não quero acreditar que tenha de ser assim. Talvez a inércia seja uma herança dos anos de ditadura, que promoveram uma cultura do medo pela manifestação e participação cívica, onde o simples ato de pensar em reivindicar seria fortemente punido.

A verdade é que nos espaços oficiais de reivindicação é incomum vermos o mesmo volume, e em especial o mesmo tom de crítica. Basta vermos o exemplo da contratualização, alvo de inúmeros textos de revolta em várias redes e fóruns sociais, mas que raramente chegam aos decisores políticos e à população em geral.

Numa fase em que o SNS em geral, e o modelo USF, em particular, estão ameaçados, a nossa participação cívica é ainda mais fundamental. Mais do que estarmos unidos, precisamos de estar atentos, informados, presentes e participativos de forma coerente e organizada. Só assim faremos a diferença.

Um bom exemplo desta participação é o apoio e suporte à criação das Comissões de Utentes. A USF-AN  deu o pontapé de saída, através do protocolo com a DECO, mas este só fará a diferença se for apoiado e acarinhado por todos. As USF precisam que os seus utentes as defendam!

A participação no 10º Encontro Nacional das USF é também um momento importante. Não só porque é um espaço de partilha de informação e conhecimento, mas também porque é um espaço onde as USF dizem “presente”. E é um espaço que marca de forma inequívoca o ano dos Cuidados de Saúde Primários em Portugal.

Por todas estas razões, todos aos Encontro Nacional das USF! Todos a Gondomar! Porque… juntos somos mais fortes! E 10 anos depois… é tempo de celebrar as USF!!!

Álvaro Pereira

Médico de Família, UCSP Portimão