Como noticiado a 3 de outubro pelo Jornal de Notícias, 773 546 utentes ainda não têm médico de família atribuído. Cabe-nos corrigir que as Unidades de Saúde Familiar (USF) não contribuem para este número, uma vez que nestas não existem utentes sem médico de família. Todas as famílias têm uma equipa de saúde familiar atribuída, constituída por médico de família, enfermeiro de família e secretário clínico. Esta equipa de saúde familiar garante o acompanhamento personalizado, próximo e de confiança, uma vez que se estabelece um contacto contínuo e prolongado durante todo o ciclo de vida, o que fortemente contribui para a prevenção da doença e promoção da saúde dos cidadãos.
Reduzir o número de utentes sem médico de família tem sido preocupação de todos os Governos, e o atual não é exceção. No entanto, durante estes quase 4 anos de legislatura, verificamos que a aposta não tem sido a necessária para alcançar o fim de utentes sem médicos de família, ou melhor sem equipa de saúde familiar!
Continuamos a ver limitada a criação de novas USF e a evolução para modelo B das que já existem, mesmo quando este modelo organizacional (USF modelo B) tem provas dadas de que têm mais ganhos em saúde, conforme nos demonstra o estudo da Coordenação Nacional para a Reforma do SNS, área dos Cuidados de Saúde Primários.
A título de exemplo, a implementação das USF aumentou a capacidade de resposta para utentes nas listas dos médicos de família e dos enfermeiros de família, tendo passado do valor médio de 1552 utentes nas UCSP para uma média de 1820 utentes nas USF de modelo B.
Para além desta capacidade de resposta, as USF modelo B garantem uma melhor vigilância da saúde do cidadão, na medida em que se todas as UCSP passassem a USF, teríamos:
- Mais 93.000 diabéticos estariam controlados (HbA1c menos que 8%);
- Mais 112 mil hipertensos teriam tensões arteriais normalizadas (menor que 150/90);
- Mais 1.900 grávidas teriam tido a sua consulta de vigilância no 1º trimestre;
- Mais 4.596 recém nascidos com consulta de vigilância antes do 28º dia;
- Mais 153.000 idosos teriam tido uma consulta de enfermagem no seu domicílio;
- Mais 33.000 idosos teriam tido uma consulta de médica no seu domicílio;
- E, uma poupança que ronda os 103M de euros anuais, comparativamente ao modelo tradicional (UCSP).
Posto isto, a solução para a redução de utentes sem médico de família é visível e tem já passos dados no país. Haja vontade política para isso reproduzir os bons exemplos, impulsionando a criação de mais USF de modelo B.
A Direção