Vacinas contra a Gripe e COVID-19 nos Centros de Saúde: Apesar das ruturas de stock, Centros de Saúde a vacinar mais

COMUNICADO

4.12.2024

Para além das ideologias (mas o que seria o mundo sem ideias!), a USF-AN pauta-se, acima de tudo, pela análise e implementação de estratégias baseadas em evidências e na essência dos Cuidados de Saúde Primários (CSP). A aposta na prevenção é sinónimo de sustentabilidade dos sistemas de saúde. Por esta razão, tem estado atenta à evolução da campanha de vacinação sazonal de gripe e COVID-19 24/25, nomeadamente às dificuldades que as equipas dos CSP estão a sentir e na consequente resposta à população.

A análise do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) da época gripal do ano passado  2023/2024, em que a vacinação da gripe foi centrada nas farmácias, não deixa dúvidas:

  • “durante a época de gripe 2023/2024 observaram-se excessos de mortalidade por todas as causas entre as semanas 51/2023 e 03/2024. Este período foi coincidente com o período epidémico de gripe em que se estimaram 3.624 óbitos em excesso. As mulheres e o grupo etário acima dos 85 anos de idade foram os grupos com maiores impactes;
  • no que se refere à proporção de casos de gripe admitidos em UCI (unidades de cuidados intensivos), o pico foi alcançado na semana 52/2023 (17,1%), com o valor mais elevado desde a implementação do sistema de vigilância da gripe em UCI, em 2011/2012 (proporção máxima de 13,5% na época 2013/2014), sendo este um aspeto distintivo desta época.”

Apesar dos sucessivos alertas, a auscultação semanal  realizada pela USF-AN às equipas dos CSP não deixa, também ela, dúvidas: para além de a campanha nos CSP ter começado mais tarde, têm ocorrido falhas persistentes na disponibilização de vacinas aos centros de saúde  (que não parecem estar a acontecer nas farmácias), continuando assim a comprometer o total sucesso da campanha, com desgaste dos profissionais e da confiança dos utentes, sem falar do impacto na gestão da doença.  Há evidência, em alguns locais, que as farmácias têm tido mais vacinas disponíveis (a DGS não tem disponibilizado informação nacional) como na ULS Coimbra (ver figura seguinte).

Apesar deste facto – falta de stock existente em algumas unidades – e segundo o último relatório publicado pela Direção-Geral da Saúde (DGS), a maior taxa de cobertura vacinal, entre as diferentes faixas etárias, para Covid19 e Gripe, foi registada entre os idosos com 85 anos ou mais, que são vacinados exclusivamente nos Centros de Saúde (Tabela 1). Acresce ainda, que de acordo com o mesmo relatório semanal, os Centros de Saúde estão a vacinar mais que as Farmácias há 3 semanas consecutivas, denotando o esforço para alcançar os objetivos propostos e dar a melhor resposta à população, mesmo em condições menos favoráveis.

Referir, ainda, que o processo de vacinação deste grupo dos 85 e mais anos é muito mais complexo, implicando, em muitos casos, ir ao domicílio das pessoas.

Alertamos novamente que a situação nos grupos-alvo abaixo dos 60 anos, cuja vacinação é também da responsabilidade exclusiva dos CSP, permanece sem informação pública atualizada nos relatórios da DGS, não se considerando estes milhares de vacinas para avaliação do programa de vacinação. Sugere-se, assim, publicação de dados relativamente às pessoas com menos de 60 anos e patologia associada.

Apesar do aparente sucesso, muito por mérito do esforço e dedicação dos profissionais do SNS, o processo de vacinação sazonal está longe de atingir as metas ideais. Persistem falhas, especialmente no SNS, enquanto as farmácias recebem mais vacinas e são privilegiadas na comunicação pública, com visitas da Diretora-Geral da Saúde, da Ministra da Saúde e da Secretária de Estado da Saúde.

A USF-AN continuará a trabalhar para garantir que as condições de trabalho nas unidades de saúde familiar (USF) sejam adequadas, que os problemas que aconteceram no ano passado com a vacinação centrada nas farmácias e não fornecendo vacinas aos CSP até muito tarde no processo, não se repitam e que a vacinação, este ano, atinja todos os grupos prioritários, de forma justa e eficiente e no tempo devido ao invés do que aconteceu no ano passado. Se se conseguirem atingir esses objetivos, a gestão do inverno e das infeções respiratórias nos serviços de doença aguda será muito melhor do que no ano passado.

A Direção

*comunicado em