COMUNICADO
28.outubro.2024
A USF-AN tem-se pautado pela análise proativa das estratégias que contrariam as evidências e desvirtuam a essência dos Cuidados de Saúde Primários (CSP) e por isso, manifesta uma vez mais, a sua preocupação com o desenrolar do processo de vacinação sazonal de gripe e COVID-19, especialmente com as dificuldades que as equipas dos CSP estão a sentir.
Embora se observe uma melhoria geral em comparação com o ano anterior, para a qual a USF-AN contribuiu com os sucessivos alertas que foi lançando, os dados mostram ainda falhas persistentes na disponibilização de vacinas nos centros de saúde (que não parecem estar a acontecer nas farmácias) e que continuam a comprometer o sucesso da campanha, com desgaste dos profissionais e da confiança dos utentes.
Em várias regiões, observou-se a exclusão de algumas unidades do fornecimento de vacinas contra a gripe e COVID-19, resultando em situações de falta de vacinas para dar resposta à procura, não permitindo ainda que as equipas convoquem ativamente os utentes elegíveis que são da sua responsabilidade vacinar. A partilha de vacinas entre USF vizinhas tem sido necessária para minimizar o impacto, mas isso não é sustentável e reflete uma grave falha na coordenação, na comunicação e na distribuição das vacinas da gripe e, principalmente, da COVID-19. Em outras, não foram disponibilizados frigoríficos, inviabilizando a vacinação.
Partindo do preenchimento de um questionário que a USF-AN tem solicitado semanalmente às unidades dos CSP [Respondentes por Semana: 23/09, N=76; de 30/09, N=80; de 07/10, N= 82; de 14/10, N=71; de 21/10, N=139] e tendo em conta a tipologia de vacina e o stock de doses suficientes para vacinar, conclui-se o atrás referido, conforme os dados seguintes:
Tabela 1. Distribuição das respostas à pergunta “Possuem o número de doses suficientes de VACINA DA GRIPE (Influvac Tetra® e/ou Fluarix Tetra® e/ou Vaxigrip Tetra®), em stock tendo em conta o planeamento da presente semana/capacidade de resposta definida pela unidade?”
Tabela 2. Distribuição das respostas à pergunta “Possuem doses suficientes de VACINA DA GRIPE Efluelda®, vacina de dose elevada, em stock tendo em conta o planeamento da presente semana/capacidade de resposta definida pela unidade?”
Tabela 3. Distribuição das respostas à pergunta “Possuem doses suficientes de VACINA COVID-19 em stock tendo em conta o planeamento da presente semana/capacidade de resposta definida pela unidade?
Não é uma amostra representativa, mas identifica unidades que não estão a receber as vacinas necessárias e, portanto, confirma-se que estão a acontecer falhas. Concluímos, portanto, que a falta de doses de vacinas tem existido em várias unidades. Alertamos que essa falta tem ocorrido e aumentando persistentemente de semana para semana na VACINA DA GRIPE Efluelda® e na VACINA COVID19. Mais grave se torna a situação quando unidades recebem um aviso de que a disponibilidade de vacinas Efluelda® e Covid-19 poderá ser insuficiente face ao número de utentes ainda não vacinados!
Acrescentar, que temos tido informação de que as farmácias, das mesmas regiões onde estão a ocorrer os problemas de distribuição para os centros de saúde, receberam uma quantidade significativamente maior de doses de vacinas, o que lhes tem permitido uma capacidade de resposta muito mais ágil, para além de terem podido começar a vacinação mais cedo. Ainda, em muitas zonas a distribuição das vacinas segue um protocolo rígido, duas vezes na semana, que nem sempre se coaduna com a adaptação a picos de procura e dimensão demasiado pequena de muito dos frigoríficos. É notório que há disponibilidade nas farmácias, mas o SNS continua a ser prejudicado, o que é no mínimo intrigante, considerando que as USF têm a experiência, a estrutura e a proximidade com os utentes para realizar um processo vacinal eficaz e de qualidade.
Segundo o último relatório publicado pela Direção-Geral da Saúde (DGS), a maior taxa de cobertura vacinal, entre as diferentes faixas etárias, para Covid19 e Gripe, foi registada entre os idosos com 85 anos ou mais, que são vacinados exclusivamente nos Centros de Saúde (Tabela 4) , apesar da falta de stock existente em algumas unidades. Num mês, com greves, incêndios e falta de disponibilização de vacinas, os centros de saúde conseguiram vacinar mais de metade do grupo-alvo. E o que é dito para a comunicação social? Vamos alargar a disponibilização das vacinas deste grupo para as farmácias comunitárias, quando antes se disse que se ia concentrar nos centros de saúde estas vacinas exatamente para facilitar a logística (que vimos estar a ter problemas mesmo assim) e conseguir vacinar em tempo útil. Está-se a conseguir alcançar este objetivo, pede-se que não se altere o que está a correr bem.
Tabela 4. Número de pessoas vacinadas por grupo etário à data de 20-10-2024. Fonte: DGS
Referir, ainda, que o processo de vacinação deste grupo é muito mais complexo, implicando, em muitos casos, ir ao domicílio das pessoas.
Contudo, a situação nos grupos-alvo abaixo dos 60 anos, cuja vacinação é também da responsabilidade exclusiva dos CSP, permanece sem informação pública atualizada nos relatórios da DGS, não se considerando estes milhares de vacinas para avaliação do programa de vacinação. Sugere-se, assim, publicação de dados relativamente às pessoas com menos de 60 anos e patologia associada.
Não podemos deixar de salientar, a leitura e a mensagem que a Ministra da Saúde, Dra. Ana Paula Martins enviou quando optou por visitar uma farmácia, promovendo o “sucesso” do processo vacinal nas farmácias, em detrimento do trabalho das equipas tuteladas pela mesma, enquanto as falhas logísticas no SNS permanecem evidentes.
Ao invés do que tem sido dito por alguns, 2022/2023 foi uma época de transição e a grande maioria da vacinação já ocorreu nas unidades funcionais dos centros de saúde e quando acontecia nos centros de vacinação era por profissionais dos centros de saúde para aí deslocados. A logística da distribuição funcionou, de facto, melhor nesse ano (o que estamos a criticar agora de novo) beneficiando da organização militar que vinha do tempo da pandemia, mas o que fazia diferença para chegar aos utentes mais renitentes – a tal hesitação vacinal – era a proximidade, forjada em muitos anos de relação nos centros de saúde, o que volta a funcionar este ano. Só falta a logística! E tratar os centros de saúde como se está a tratar as farmácias.
É importante, também, voltar a reforçar que o processo de vacinação 2024/2025 que está a ocorrer nas farmácias não é gratuito! Tem um custo para o Estado e, portanto, para todos os Portugueses! Como sabemos este ano a tutela aumentou em 50 cêntimos o preço pago às farmácias pela administração de cada vacina (três euros). Como se está a pagar 3 euros por vacina administrada nas farmácias concluímos, à presente data e tendo por base o relatório nº5, de 22/10/2024, da DGS,:
- que o SNS, devido à vacinação nos centros de saúde, poupou aos contribuintes portugueses aproximadamente 2 milhões e oitocentos mil euros! Sugerimos que sejam investidos na contratação de profissionais de saúde que faltam no SNS.
- que as farmácias irão receber pelas vacinas administradas até ao momento aproximadamente 4 milhões e duzentos mil euros! Sugerimos que, no próximo ano, estes milhões sejam investidos na contratação de profissionais de saúde que faltam no SNS.
Tabela 5. Nº doses administradas Farmácias/Gasto com a administração vacinas nas Farmácias.
Tabela 6. Nº doses administradas no SNS/Poupança tendo por base os 3 euros a serem pagos às farmácias por cada vacina administrada [Referir que faltam aqui os milhares de vacinas abaixo dos 60 anos, exclusivas dos centros de saúde. Deixar a nota, ainda, que muitos milhares destas vacinas são administradas no domicílio das pessoas pelos centros de saúde, num processo de muito maior complexidade e não há informação das vacinas disponibilizadas às farmácias e ao SNS (ver texto acima)]
Em suma, o processo de vacinação sazonal está longe de atingir o ideal. Persistem falhas, especialmente no SNS, enquanto as farmácias recebem mais vacinas e são privilegiadas na comunicação pública.
A USF-AN continuará a trabalhar para garantir que as condições de trabalho nas unidades de saúde familiar sejam adequadas, que os problemas que aconteceram no ano passado com a vacinação centrada nas farmácias não se repitam e que a vacinação, este ano, atinja todos os grupos prioritários, de forma justa e eficiente e no tempo devido ao invés do que aconteceu no ano passado.
A Direção