COMUNICADO
05.janeiro.2024
CONTRA FACTOS, NÃO HÁ ARGUMENTOS
Os dados disponibilizados pelo Vacinómetro®, bem como os dados presentes no relatório da DGS (Direção Geral da Saúde) relativo à vacinação sazonal 2023-2024, demonstram que a taxa de cobertura vacinal se encontra abaixo do que aconteceu em anos anteriores.
Em 2022, dados divulgados pela Sociedade Portuguesa de Pneumologia confirmam que Portugal, pelo quarto ano consecutivo, tinha atingido e superado a meta definida pela OMS (Organização Mundial de Saúde) para a cobertura vacinal das pessoas com mais de 65 anos de idade. Isto revela que a acessibilidade nunca foi um problema, como já afirmamos anteriormente!
O que mudou na época 2023-2024 para que a vacinação tivesse números mais baixos de cobertura vacinal? Foi exatamente a publicação da Portaria n.º 264/2023, de 17 de agosto, que estabelece o modelo de funcionamento da Campanha de Vacinação Sazonal do Outono-Inverno 2023-2024 contra a gripe e contra a COVID-19 em farmácias comunitárias, desviando a iniciativa desta vacinação e disponibilidade de vacinas para as farmácias comunitárias.
Analisemos as seguintes tabelas (dados disponíveis na página da DGS):
DADOS RELATIVOS A VACINAÇÃO DA GRIPE
ANO DE 2022 | ANO 2023 | ANO DE 2023 | |||
VACINAÇÃO EXCLUSIVA NOS CENTROS DE SAÚDE | vacinação com orientação para ser realizada em farmácias comunitárias | VACINAÇÃO DEPOIS DO PEDIDO DE APOIO AOS CENTROS DE SAÚDE | |||
20/11/2022 | 20/11/2023 | 24/12/2023 | |||
Grupo etário | Cobertura Vacinal | Nº pessoas vacinadas | Cobertura Vacinal | Nº pessoas vacinadas | Cobertura Vacinal |
80 + anos | 75% | 458.406 | 66,38% | 521.458 | 75,56% |
70-79 anos | 71% | 634.824 | 62,32% | 728.538 | 71,58% |
DADOS RELATIVOS A VACINAÇÃO À COVID 19
ANO DE 2022 | ANO 2023 | ANO DE 2023 | |||
VACINAÇÃO EXCLUSIVA NOS CENTROS DE SAÚDE | vacinação com orientação para ser realizada em farmácias comunitárias | VACINAÇÃO DEPOIS DO PEDIDO DE APOIO AOS CENTROS DE SAÚDE | |||
20/11/2022 | 20/11/2023 | 24/12/2023 | |||
Grupo etário | Cobertura Vacinal | Nº pessoas vacinadas | Cobertura Vacinal | Nº pessoas vacinadas | Cobertura Vacinal |
80 + anos | 72% | 383.832 | 55,59% | 437.593 | 63,41% |
70-79 anos | 73% | 520.179 | 51,07% | 602.221 | 59,17% |
Como podemos constatar pelos dados acima, a estratégia adotada pela Direção-Executiva do SNS para a Vacinação Sazonal do Outono-Inverno 2023-2024 contra a gripe e contra a COVID-19 em farmácias comunitárias não produziu os efeitos esperados, tendo colocado Portugal bastante abaixo da cobertura vacinal alcançada em anos anteriores, quando esta era assegurada pelos Centros de Saúde. A 20 de novembro de 2023, antes do início das fases mais críticas da gripe, Portugal, pela primeira vez em 5 anos, não tinha taxas de vacinação seguras nem da gripe, nem da COVID-19.
Por esse motivo e, ainda, por não haver agendamentos em número suficiente para as semanas seguintes, após um mês e 23 dias de vacinação, a Direção-Executiva do SNS, encarregue da operacionalização de todo este processo, solicitou aos profissionais das USF (Unidades de Saúde Familiar) e UCSP (Unidades de Cuidados Saúde Personalizados) para convocarem urgentemente os utentes com idade superior a 60 anos (ver solicitação aqui).
A ativação dos Centros de Saúde para realização da vacinação levou a uma maior vacinação nos mesmos e mais agendamentos nas farmácias (onde estavam as vacinas), como facilmente se comprova pelos dados que temos de 24 de dezembro de 2023. Contudo, perdeu-se o tempo de resposta atempada e aos mesmos níveis dos anos anteriores e perturbou-se a atividade dos Centros de Saúde (que poderiam ter assegurado atempadamente e de um modo programado, como em todos os anos anteriores, uma vacinação de sucesso).
Esta é a causa para que, por exemplo, o pneumologista e diretor da Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital Pulido Valente e ex-coordenador do Gabinete de Crise para a COVID da Ordem dos Médicos, Dr. Filipe Froes, confirme que “a maioria das pessoas internadas em UCI tem gripe e não tinha vacinação”, esclarecendo que “o facto de estas unidades terem muitas camas ocupadas com gripe diminui a capacidade de resposta para as outras patologias, nomeadamente para as mais complexas do foro cirúrgico, que têm de fazer o pós-operatório imediato em Cuidados Intensivos. E se não há vagas qualquer unidade está sob pressão”, como se pode ler no Diário de Notícias.
Estes dados vêm confirmar o já referido no comunicado anterior da USF-AN, em que efetivamente a metodologia definida pela Direção-Executiva do SNS e utilizada no presente ano, no que à vacinação sazonal diz respeito, não tem conseguido atingir as coberturas vacinais desejadas.
Todos estes dados reforçam que os portugueses confiam na vacinação em contexto das unidades de saúde dos CSP (Cuidados de Saúde Primários), pela sua Equipa de Saúde Familiar e reconhecem a sua importância e o seu valor. Este dado também se comprova nos relatórios do Vacinómetro®, quando se abordam os motivos que levaram as pessoas a vacinar-se, em que a maioria o faz por recomendação da Equipa de Saúde Familiar e não “porque recebeu notificação de agendamento pelo SNS” (só 3,9% neste último caso). No mesmo sentido, a rede de vacinação dos Cuidados de Saúde Primários envolve os cerca de 9000 enfermeiros que existem neste nível de cuidados e que têm uma relação de proximidade com cada pessoa a vacinar e esta relação faz a diferença.
Num estudo na USF Marginal da atual ULS de Lisboa Ocidental, relacionado com a satisfação do utente (1060 respostas analisadas), perguntou-se qual era o local em que preferia ser vacinado e 80% responderam que era o centro de saúde. É apenas um estudo local, mas a mensagem é que se deve perguntar às pessoas o que preferem fazer, em vez de tentar adivinhar quais as suas preferências ou decidir por elas.
Portanto, as campanhas de vacinação, incluindo obviamente a acessibilidade, têm sido excelentes até à época sazonal de 2022-2023. Verificamos agora, no final de 2023, que este desempenho não se repetiu de um modo atempado.
Não podemos aceitar que se continuem a definir estratégias, nesta e em outras áreas como o atendimento em contexto de doença aguda, que em nada contribuem para a saúde e prevenção da doença da população e que, consequentemente, perturbam gravemente o funcionamento dos serviços de saúde do SNS.
Também por isso, continuamos a apelar à divulgação das avaliações à atual campanha de vacinação, comparativamente às anteriores.
Reiteramos a convicção de que todo o Programa Nacional de Vacinação e consequentemente qualquer campanha de vacinação sazonal deve estar centrada nos Cuidados de Saúde Primários, não se caindo no erro de apostar em cuidados de saúde desintegrados, em que se perde o valor dos cuidados globais e de proximidade prestados pelas Equipas de Saúde Familiar.
A Direção